Como um grande salão de dança, ausente de quaisquer estruturas ou objetos, o cenário de Quinze Centímetros se apresenta. Quase instantaneamente duas figuras se unem em uma dança fluida, forte e ritmada, guiada por uma trilha sonora que traz a sensação de amor nostálgico, alegria insossa, como um tango. Mas, tão rápido como começa, o clima se desfaz. A loucura se instaura, e a mulher, agora transtornada, joga-se violentamente contra seu parceiro, antecipando o que virá em seguida.
Um simples casal, estes são os personagens. Ele primeiramente se constrói como um jovem boêmio, cheio de simpatia e vivacidade, constantemente tomado por uma forte atitude romântica com sua parceira. Mas, com o decorrer da cena, torna-se fraco e com a perda da estatura, passa a representar um animal de estimação preso dentro da própria casa, às vezes também é humilhado pela incapacidade em usar sua genitália, já que agora é do tamanho que ela deveria ser. A parceira por sua vez demonstra um único sentimento: insegurança. E esse único, mas decisivo pensamento potencializa seus atos no decorrer da cena. Aos poucos, ela tenta, de uma maneira compulsiva, se livrar da sua insegurança com bombons belgas de coco e cigarros, constantes na cena. Em um determinado momento, fragmentos da apresentação do seu parceiro apontam para um plano absurdo, com justificativas em seu entendimento plausíveis e humanistas, mas que escondem a retomada do controle sobre a própria vida. Afinal, qual homem se recusaria a obedecer à esposa, quando ele tem apenas quinze centímetros?
O assunto é fantástico e pouco trabalhado em outros meios, inclusive no teatro e talvez isso, aliado ao curto intervalo de tempo, acarretou sérios problemas de continuidade na peça. A história é introduzida com perfeição ao espectador, tornando compreensíveis as atitudes dos personagens, mas o processo em si de encolhimento não é explicado. Em um momento os personagens se digladiam entre o amor e a insegurança, em outro o personagem já encolhido relata pequenos fragmentos do seu dia-a-dia, intercalado por sua parceira, com a entrada sempre denunciada pela ponta acesa do cigarro em contraste com o cenário escuro. A segunda parte da cena é de difícil interpretação pela ausência de um “meio da história”, sendo melhor compreendida pela utilização de um projetor, recurso cinematográfico importante na construção da ideia e perspectiva do personagem encolhido. Que se tornaria perfeitamente real com uma reformulação do enredo, eliminando-se a descontinuidade, o ainda grande obstáculo na compreensão do processo.
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