quinta-feira, 21 de junho de 2012

Os menores tamanhos necessitam de maior tempo

por Thiago Antunes


15 cm mostra que as melhores coisas ainda se escondem nos menores frascos, mas alguns ainda permaneçam fechados.

Como um grande salão de dança, ausente de quaisquer estruturas ou objetos, o cenário de Quinze Centímetros se apresenta. Quase instantaneamente duas figuras se unem em uma dança fluida, forte e ritmada, guiada por uma trilha sonora que traz a sensação de amor nostálgico, alegria insossa, como um tango. Mas, tão rápido como começa, o clima se desfaz. A loucura se instaura, e a mulher, agora transtornada, joga-se violentamente contra seu parceiro, antecipando o que virá em seguida.

Um simples casal, estes são os personagens. Ele primeiramente se constrói como um jovem boêmio, cheio de simpatia e vivacidade, constantemente tomado por uma forte atitude romântica com sua parceira. Mas, com o decorrer da cena, torna-se fraco e com a perda da estatura, passa a representar um animal de estimação preso dentro da própria casa, às vezes também é humilhado pela incapacidade em usar sua genitália, já que agora é do tamanho que ela deveria ser. A parceira por sua vez demonstra um único sentimento: insegurança. E esse único, mas decisivo pensamento potencializa seus atos no decorrer da cena. Aos poucos, ela tenta, de uma maneira compulsiva, se livrar da sua insegurança com bombons belgas de coco e cigarros, constantes na cena. Em um determinado momento, fragmentos da apresentação do seu parceiro apontam para um plano absurdo, com justificativas em seu entendimento plausíveis e humanistas, mas que escondem a retomada do controle sobre a própria vida. Afinal, qual homem se recusaria a obedecer à esposa, quando ele tem apenas quinze centímetros?

O assunto é fantástico e pouco trabalhado em outros meios, inclusive no teatro e talvez isso, aliado ao curto intervalo de tempo, acarretou sérios problemas de continuidade na peça. A história é introduzida com perfeição ao espectador, tornando compreensíveis as atitudes dos personagens, mas o processo em si de encolhimento não é explicado. Em um momento os personagens se digladiam entre o amor e a insegurança, em outro o personagem já encolhido relata pequenos fragmentos do seu dia-a-dia, intercalado por sua parceira, com a entrada sempre denunciada pela ponta acesa do cigarro em contraste com o cenário escuro. A segunda parte da cena é de difícil interpretação pela ausência de um “meio da história”, sendo melhor compreendida pela utilização de um projetor, recurso cinematográfico importante na construção da ideia e perspectiva do personagem encolhido. Que se tornaria perfeitamente real com uma reformulação do enredo, eliminando-se a descontinuidade, o ainda grande obstáculo na compreensão do processo.

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